“Succession” da Vida Real: Quem É o Magnata Polonês Que Enfrenta uma Disputa Familiar Bilionária
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O bilionário polonês Zygmunt Solorz está envolvido em uma disputa familiar com seus três filhos desde agosto de 2024. Ambas as partes estão travando batalhas em tribunais de vários países para conquistar o controle de US$ 2,5 bilhões (R$ 13,2 bilhões) de Solorz, que possui investimentos em energia, telecomunicações e mídia.
Agora, no mais recente capítulo da saga, Solorz entrou com uma petição legal na Califórnia para obter documentos de sua filha Aleksandra, que vive em Los Angeles, que ele poderia usar como prova para reforçar seu caso em Liechtenstein. É nesse país que Solorz já processa Aleksandra, além de seus dois filhos, Piotr e Tobias — que vivem na Polônia e em Dubai, respectivamente —, sobre os planos sucessórios para duas fundações privadas que controlam seu império empresarial.
“Minha esperança é que os processos legais esclareçam a propriedade e a governança de uma maneira que garanta a estabilidade das empresas que passei minha vida inteira construindo”, afirmou Solorz, de 69 anos, em entrevista a Forbes. “Ser enganado pelos meus próprios filhos foi algo muito doloroso e pessoal.”
Para Solorz, levar sua batalha aos tribunais dos EUA ajudará a descobrir provas do suposto plano de seus filhos para tomar o controle de suas empresas. Para os filhos, é a mais recente tentativa de reverter seus planos de transferir as fundações para eles.
Solorz está utilizando uma petição conhecida como Section 1782 discovery, que é “desenhada para garantir que todas as informações relevantes sejam disponibilizadas em conexão com processos estrangeiros pendentes”, acrescenta David B. Hennes, advogado de Solorz no escritório de advocacia Ropes & Gray. “Esperamos que esse processo ajude a trazer à tona todas as evidências pertinentes.”
“Queremos esclarecer que não há novos processos na Califórnia. O processo de descoberta diz respeito exclusivamente aos processos em andamento em Liechtenstein, onde a primeira instância já decidiu a favor dos filhos e afirmou explicitamente que não houve fraude ou engano”, diz Martin Weinstein, advogado de Aleksandra no escritório de advocacia Cadwalader, Wickersham & Taft. “Acho muito triste que Aleksandra esteja sendo atacada pelo pai dessa maneira.”
O que está acontecendo?
Os filhos de Solorz, no entanto, veem isso como uma última tentativa de reverter uma luta que está se perdendo. “Isso é apenas uma tentativa de desviar a atenção do resultado da principal disputa em Liechtenstein, onde essa questão está sendo debatida e onde o tribunal da primeira instância confirmou a ausência de qualquer fraude alegada e a validade do plano sucessório”, diz Maciej Ślusarek, advogado de Aleksandra, que se mudou para o norte de Hollywood, em Los Angeles, em 2019, e administra um abrigo de animais chamado Pawsitive Beginnings.
Buscar provas nos EUA para serem usadas em processos judiciais no exterior se tornou muito mais comum nos últimos anos, segundo Lucas Bento, advogado do escritório Quinn Emanuel e especialista na Section 1782. “Estamos vendo cada vez mais esse tipo de caso, também em disputas de herança”, afirma ele. “É uma ferramenta que permite descobrir fatos para construir uma imagem mais sólida da verdade. E ela faz isso muito bem porque os EUA têm um sistema muito liberal quando se trata de descoberta de informações.”
A disputa sucessória gira em torno dos eventos de 2 de agosto de 2024 — dois dias antes do aniversário de 68 anos de Solorz. Foi nesse dia que ele se reuniu com seus filhos em seu escritório de Varsóvia para discutir seus planos sucessórios, dias antes da família viajar para a Itália para passar as férias juntos no superiate de 89 metros de Solorz.
A reunião terminou com Solorz assinando declarações que alegadamente transferiram irrevogavelmente o controle das duas fundações baseadas em Liechtenstein — que detêm as ações de Solorz em suas empresas — para seus filhos, com efeito imediato. Mais tarde naquele mesmo dia, Solorz afirma que percebeu que havia sido enganado depois de consultar seus assessores.
No dia seguinte, ele disse aos filhos que queria revogar as declarações. Isso deu início a uma batalha judicial entre o magnata e seus filhos que continua a se desenrolar nos tribunais da Polônia, Chipre, Liechtenstein — e agora, nos Estados Unidos.
Drama de novela
A história faz paralelos com o famoso programa da HBO “Succession”: os filhos alegam que seu pai está doente, sofrendo de efeitos mentais e físicos de uma infecção por Covid-19. Também afirmam que ele está sob o controle de sua quarta esposa, Justyna Kulka, uma funcionária de longa data da empresa de telecomunicações Polkomtel, de Solorz, que é 18 anos mais jovem. O casal se casou em março de 2024, cerca de cinco meses antes do início da disputa.
Por sua parte, Solorz nega essas alegações e mantém que seus filhos orquestraram um golpe para tomar seu império empresarial, prometendo lutar contra eles nos tribunais para retomar o controle.
A disputa já gerou altos custos. Através das duas fundações de Liechtenstein, a família possui 60% da Cyfrowy Polsat, maior operadora de TV por assinatura da Polônia, e 66% da ZE PAK, maior empresa de energia privada da Polônia, entre outros ativos. As ações da Cyfrowy Polsat, que representam mais da metade da fortuna, caíram 7% desde que a notícia da disputa se tornou pública em setembro de 2024.
O magnata entrou pela primeira vez na lista de bilionários da Forbes em 2005, com um patrimônio estimado em US$ 1 bilhão (R$ 5,28 bilhões), e sua fortuna atingiu o pico de US$ 4,1 bilhões (R$ 21,7 bilhões) em agosto de 2021, mas desde então caiu para US$ 2,5 bilhões (R$ 13,2 bilhões).
Os investidores não estão satisfeitos com a situação. “Isso definitivamente está afetando as ações”, afirma Nora Varga-Nagy, analista da empresa austríaca de serviços financeiros Erste Group. “O fim da disputa familiar deve ser um alívio para o mercado.”
Em outubro de 2024, Solorz afastou seus filhos das diretorias da Cyfrowy Polsat e da ZE PAK. No mesmo mês, um juiz de Liechtenstein nomeou três novos membros para as diretorias das duas fundações de Solorz, sendo um membro escolhido por Solorz, outro por seus filhos e o terceiro pela corte.
A maré virou para os filhos em maio, quando um tribunal de Liechtenstein confirmou suas alegações e rejeitou o processo de Solorz para invalidar as declarações que transferiam o controle para seus filhos. Solorz apelou dessa decisão em junho, e um mês depois foi afastado das diretorias da Cyfrowy Polsat e da ZE PAK. “Tudo o que aconteceu nos últimos anos não é, em termos simples, o que eu queria”, diz Solorz. “Estou confiante de que os tribunais eventualmente reconhecerão isso.”
Fortuna X Família
Os registros judiciais revisados pela Forbes alegam que, em agosto e setembro, Solorz criou duas novas fundações em Liechtenstein. Os advogados de seus filhos afirmam que Kulka é uma beneficiária secundária dessas duas entidades e que Solorz planeja transferir imóveis na Polônia, Grécia e Itália — além de uma casa em Antibes, na Riviera Francesa, e seu iate — para eles.
Solorz se recusou a comentar sobre o propósito dessas fundações.
Fontes familiarizadas com o impasse disseram à Forbes que uma decisão sobre o caso principal em Liechtenstein é esperada em algumas semanas ou meses. Isso, no entanto, não encerraria a luta sucessória: se Solorz vencer, seus filhos poderão entrar com um novo recurso. Se vencerem, ele poderá apresentar uma queixa ao tribunal constitucional do país.
Para Solorz, não está em jogo apenas sua fortuna, mas o futuro do império e seus milhares de funcionários na Polônia. “Como pai, é lamentável quando assuntos privados da família se tornam públicos, mas essa questão é muito maior do que uma briga familiar”, afirmou ele à Forbes.
Quanto aos filhos, eles são firmes ao afirmar que ainda buscam conversar com o pai e resolver a disputa. “Continuamos a tomar medidas para resolver a disputa amigavelmente e garantir a segurança pessoal de nosso pai, restaurando o contato pessoal com ele e garantindo que sua saúde não tenha se deteriorado”, disseram em comunicado à Forbes Polônia. “Na nossa opinião, não estamos fazendo nada além do que filhos devem fazer na situação de nosso pai.”
Com ambos os lados convencidos de que sairão vitoriosos, o destino de uma das maiores fortunas da Polônia permanece incerto.
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